O programa “Mais Você, da Rede Globo de Televisão, que vai ao ar todas as manhãs, apresentado por Ana Maria Braga, trouxe ontem (17), uma entrevistada no mínimo inusitada: a procuradora da República Mariane Mello, integrante da força tarefa formada pelos Ministérios Públicos para combater a prática de pirâmide financeira no país e responsável pelo pedido de bloqueio BBOM.
O tom da entrevista foi logo sentido quando o mascote do Programa, Louro José, ao cumprimentar a procuradora afirmou: “Bom dia Doutora, eu tô até apavorado com esse negócio de pirâmide, que coisa hein”.
Ana Maria Braga também tratou logo de se posicionar e confessou que quase caiu nessa. “Era uma história que parecia que tinha um produto, era o negócio do Boi Gordo e eu quase entrei nessa”, disse.
TelexFREE e BBOM
Ao ser questionada pela apresentadora, sobre o volume de negócios e de empresas envolvidas, Mariane Mello citou de imediato o caso da TelexFREE.
“A gente deve ter mais ou menos, hoje, no país, uns 10 processos. Mas os que eu posso divulgar, que não são mais sigilosos, é o caso da TelexFREE que está acontecendo no Acre e o caso que eu atuo mais especificamente no estado de Goiás, que é o da BBOM.
“No caso do VoIP, que é o da TelexFREE, o prejuízo estimado é de quase 1 bilhão de reais e a maioria das pessoas que compraram não sabem nem o que é VoIP”, afirmou a Procuradora.
No tocante a BBOM, Mariane afirmou que ela (empresa) adquiriu 70 mil rastreadores e vendeu 1,5 milhão. “Não tinha como entregar (os rastreadores), e 90% das pessoas que adquiriram não estavam interessadas nos aparelhos”, afirmou.
A Procuradora afirmou ainda que, “no caso da BBOM, em 3 meses de atuação, nós conseguimos recuperar cerca de 300 milhões de reais. Por mais que o MP e a justiça sejam rápidos, e nesse caso foi, é provável que essa empresa tenha movimentado cerca de 500 milhões de reais em 3 meses, é realmente muito preocupante”.
A Procuradora exalta a atuação contra as empresas e joga um banho de água fria nos Associados que acreditavam em uma decisão favorável da justiça, liberando a retomada dos trabalhos da Empresa.
“O caso da BBOM é interessantíssimo, porque nós (MPF e Justiça) fomos muito rápidos na efetividade judicial. Nós conseguimos bloquear na justiça mais de 300 milhões de reais”.
Opinião formada, decisão tomada
Segundo Mariane, o entendimento no âmbito da força tarefa é de que os líderes que estão na cúpula são tão culpados quanto os proprietários, porque quem entra no início sabe que é uma pirâmide, são os amigos do rei, chamados de faraós pelos integrantes do MP.
“Os faraós e os laranjas são culpados e deverão ser responsabilizados. Os outros consumidores nós tratamos como vítima. Esses a gente busca proteger”, comentou.
A Procuradora disse ainda que, num primeiro momento, o bloqueio parece ser uma medida antipática, porque a pessoa tem uma expectativa de receber rápido, mas como processos judiciais são demorados a pessoa vai demorar a receber, mas que a ação é para proteger esses estes consumidores.
Mariane orientou ainda que os associados guardem os recibos da aquisição dos produtos para um posterior ressarcimento, após decisão judicial.
Faraós e Bandidos
O resumo da entrevista ocorreu quando a apresentadora Ana Maria instigou a Procuradora e, sem nenhum receio, afirmaram em rede nacional que trata-se de um grupo de bandidos. Ana Maria questionou sobre a opinião da Procuradora acerca das pessoas que continuam defendendo as empresas bloqueadas, e que fizeram protestos afirmando que estavam recebendo e que queriam continuar.
“Na verdade é um grupo muito fechado, eles migram. Depois que uma pirâmide é suspensa judicialmente eles migram para outras pirâmides”, afirmou a Procuradora, iniciando então o trecho mais importante da entrevista.
- Ana Maria: Ah, especialista em pirâmide.
- Procuradora Mariane Mello – São Especializados.
- Ana Maria: Ah, então são bandidos (gargalhadas).
- Procuradora Mariane Mello: É, são bandidos... são bandidos. Os grandes faraós estão na mira do MP e da força tarefa e nós vamos investigar todos eles. Que fiquem atentos porque nós vamos batalhar para que todos sejam processados.